terça-feira, 8 de maio de 2012

Verão sem fim: este ano, choveu quase quatro vezes menos do que em 2011


O termômetro tem marcado diariamente 30°C. Enquanto isso, na região Sudeste do Brasil, o frio tomou guarida




Fonte:Correio

A força das águas deu lugar ao sol em Salvador. A temporada de chuvas, que historicamente começa em abril e avança pelo mês de maio, este ano ainda não deu as caras. O resultado: praias cheias em época onde nem pescador gosta de ir pro mar e um calor daqueles em todos os pontos da cidade.

O termômetro tem marcado diariamente 30°C. Enquanto isso, na região Sudeste do Brasil, o frio tomou guarida. Em São Paulo, a Defesa Civil municipal decretou estado de atenção depois que a temperatura atingiu 10,9°C.
No Porto da Barra, a turma aproveita o sol para praticar esportes
Na capital baiana, nos últimos dias, basta  poucos minutos longe do ar condicionado para o suor dar sinais do calor intenso. Mas a trégua da chuva anima quem quer aproveitar o sol.

“Não esperava tanto sol nesta época. Chegamos quinta passada e viemos à praia todos os dias”, diz a paulista Márcia Mayakawa, 41 anos. O marido dela, o corretor Mário Moreira, 50, lamenta ter que trocar os dias ensolarados pela chuva. “É deprimente só de pensar que voltaremos hoje (ontem) para casa. Sempre que podemos voltamos a Salvador, mas dessa vez tivemos uma surpresa com esse Verão esticado”, diz.

O comerciante Jorge Antonio Rodrigues Braz vive da praia há 17 anos e não se lembra de um Verão que tenha “entrado” no mês de maio. “Isso é uma novidade daquelas. Ano passado, num dia como hoje (pausa para olhar o sol e secar o suor do rosto), tinha vendido só 30 cocos. Mas, hoje, estou vendendo uns 300 como se tivesse num dia de Verão forte”, comemora o comerciante que tem sete carrinhos de água de coco ao longo da orla.

Explicações 
Segundo  o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), entre janeiro e abril de 2011 choveu 700 mm em Salvador. No mesmo período deste ano, foram registrados apenas 180 mm. Ou seja: ano passado choveu quase quatro vezes mais no período. E, pelo prognóstico do instituto, o Verão atípico pode se prolongar por mais tempo.


A principal causa da falta de chuva  é o esfriamento do Oceano Atlântico. Geralmente, a temperatura é de 27°C, mas o oceano está com 26°C. Com o esfriamento, as frentes frias que saem do Sul e passam pelo Rio de Janeiro vão para o oceano e não retornam para o Nordeste. Isso acontece porque a água do oceano não evapora e, com isso, não desloca a frente fria para o Nordeste.

A previsão para esse final de semana, segundo dados do site do Inmet, é de tempo nublado a parcialmente nublado com possibilidade de chuvas isoladas em Salvador.

“A avaliação mostra que, nos próximos três meses deste ano, existe a possibilidade de o volume de chuvas ficar 35% abaixo da média. Isso atingirá o período que mais chove no ano que são os meses de abril, maio, junho e julho”, afirma o meteorologista do Inmet em Recife Ednaldo Correia de Araújo.

Explicações 
De acordo com o Imnet, em média, é esperado chover 324.8 mm em maio, 241.4 em junho e 203.6 em julho - 769.8 mm no total. Se o prognóstico for confirmado, pode chover apenas 269.43 mm. “Pode ser que um mês chova mais que outros ou todos os meses fiquem abaixo do volume normal”, afirma Araújo.

Se o calor continuar, a alegria de Valdir Santos Araújo, o Val da Barra, também vai se prolongar. “Só trabalho quando tem sol. Em anos passados, em abril e maio, ficava em casa. Este ano, eu tô podendo trabalhar e vender meu picolé”, conta Val que sustenta a família com a venda de produtos na praia há 20 anos. 
Segundo Araújo, o fenômeno da prorrogação do sol não atinge apenas a capital baiana, mas a todo o litoral do Nordeste. Sem chuva à vista, a 
população não terá trégua no calor. 

“Registramos temperatura média  em abril de 30,5°C. No mesmo período do ano passado, a média registrada foi de 29,7°C. Não creio que ficará mais quente, mas se a escassez de chuva continuar a temperatura terá pouca variação e esse calor trará desconforto às pessoas”, ressalta a meteorologista do Inmet Salvador Valéria Silva. 
Embasa não acredita em falta d’água
Mesmo com a escassez de chuva, o soteropolitano não sofrerá com a falta de água. É o que garante o coordenador de recursos hídricos e ambientais do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Eduardo Topázio. Segundo ele, a barragem de Pedra do Cavalo, em Cachoeira, é responsável por 60% do abastecimento da cidade e não é afetada pela ausência de chuva do litoral. O superintendente de operação da Região Metropolitana de Salvador da Embasa, José Moreira, explica que oito barragens são responsáveis pelo abastecimento da RMS. “Mesmo com a falta de chuvas não há risco de ter crise no abastecimento. A barragem de Pedra do Cavalo, por exemplo, que é a maior, tem seu período histórico de chuvas em outubro”, esclarece. 

Sem chuva, problemas diminuem
Com a estiagem deste ano, o número de solicitações feitas à Defesa Civil de Salvador (Codesal) caiu em Salvador. No período de 1º de abril a 3 de maio de 2011, a Codesal  recebeu 836 solicitações de emergência. No mesmo período de 2012, o órgão recebeu 443 solicitações. A Sucop (Superintendência de Conservação e Obras Públicas) informou que, mesmo com a pouca ocorrência de chuvas tem mantido as equipes disponíveis. “Na Sucop, 213 pessoas estão envolvidas, trabalhando em plantões noturnos, feriados e finais de semana”, informou o órgão em nota. 

Seca: 228 municípios em estado de emergênciaO número de municípios em estado de emergência na Bahia subiu para 228. Esta é considerada a pior estiagem dos últimos 47 anos na região. Para enfrentar os efeitos da estiagem prolongada, o Estado conseguiu ontem mais R$ 50,9 milhões. Os convênios para liberação dos recursos, que fazem parte  do programa Água para Todos do governo federal, foram assinados, em Brasília,  pelo governador Jaques Wagner e o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra. No total, R$ 20 milhões serão investidos em projetos de sistemas integrados de abastecimento de água para os municípios de Manoel Vitorino, Mirante, Bom Jesus da Serra, Sento Sé, Caculé e Licínio de Almeida. Outros R$ 16,5 milhões serão aplicados na implantação de 12 mil cisternas, fornecidas pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Serão disponibilizados também R$ 14,4 milhões para a construção de 360 barreiros, beneficiando em torno de 18 mil pessoas. "São mais recursos para obras necessárias para fazer o enfrentamento à seca”, disse o Wagner, que agradeceu e citou que o ministro, por ser nordestino, teve sensibilidade com o sofrimento causado pela seca.

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